segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Nero

   Era o nosso cachorro de caça, branco com malhas pretas. Fazia parte da família, ele participava de tudo que fazíamos. Sempre o primeiro a perceber qualquer coisa estranha acontecendo, era nosso guardião, corajoso e forte.
  Como morávamos em um lugar de certa forma perigoso por ser muito afastado de civilizações, quando alguém aparecia era motivo de ficarmos atentos. De outro lado corríamos perigo devido a animais selvagens, que desciam das montanhas durante a noite. Nero fazia a ronda, sempre avisava ao avistar algo estranho. Quando isso acontecia, meu pai levantava pegava a espingarda e o lampião para ir de encontro ao Nero, e juntos afugentavam o intruso.
  Passou algum tempo e fomos morar em uma velha fazenda, o dono havia falecido. Os herdeiros não queriam cuidar da fazenda, então deixava famílias morar na fazenda, raras vezes apareciam. Porém os moradores diziam que havia algo estranho. Ao anoitecer fechavam as portas e ninguém podia sair.
  Certo dia contaram para meu pai que no terreno da fazenda tinha um cafezal, mas tinha algo estranho. Meu pai ficou curioso e convidou alguns dos moradores para ir lá, ficou surpreso com o que viu, enormes pés de café lotados de grãos. Então entraram em um acordo e decidiram vender.
  No dia seguinte começaram a colheita, no final da tarde foram para casa deixando no paiol as sacas de café, ferramentas e curotes d'água. Só não perceberam que Nero ficou para traz, já era tarde quando percebemos sua falta. Resolvemos buscar Nero, ao entrar no estradão que levava ao cafezal, não foi possível prosseguir, a presença de algo estranho nos fez desistir. 
  Voltamos para casa mas não conseguimos dormir, mal tinha amanhecido o dia e fomo de novo atras do cachorro. Quando lá chegamos encontramos tudo destruído, as ferramentas espalhadas, as sacas de café estraçalhadas, vários buracos no chão e Nero caído. Deixamos tudo para trás e levamos ele para casa. Ao chegar Nero já estava morto, então o enterramos no quintal. Apos algum tempo nos mudamos mas nunca esquecemos Nero.

Opadeiro

  Senhor Manoel  era um português, baixo, gordo, cabelo preto e um largo bigode. Usando sempre um avental branco, entrelaçado as costas em forma de "x". Todas as tardes ficávamos a sua espera, pois além dos pães trazia guloseimas para dar às crianças. Sempre sorrindo  vinha ele com sua carroça de pães, tocando uma buzina.
  Alguns dos colonos não tinham dinheiro para pagar-lo, mesmo assim ele não deixava de levar os pães para a família. Certo dia minha mãe teve uma brilhante ideia, reuniu as vizinhas e contou:" o que vocês acham de fazer uma proposta ao senhor Manoel, nem sempre temos dinheiro, mas poderíamos propor a ele uma barganha . Pagaríamos os pães com os animais, as frutas e verduras que produzimos na fazenda." Todos concordaram.
  Senhor Manoel aceitou a proposta, e com as mercadorias abriu quitanda. Com o lucro do comercio, reformou sua padaria e ganhou muitos fregueses. Sua pequena quitanda apos algum tempo, se transformou em um grande mercado. Mesmo se tornando tão importante na sociedade, nunca deixou de levar pães e doces à fazenda.